A banana supera a quantidade consumida de qualquer outra fruta no Brasil. O brasileiro consome em média 25 kg por ano dos diferentes tipos e o país é o quarto maior produtor mundial, com quase 7 milhões de toneladas produzidas anualmente. São Paulo é o estado que mais produz a fruta e o Vale do Ribeira, na baixada santista, região que habito é o maior produtor do estado. Sim, nós temos bananas. E se usarmos um rolo de fita adesiva e colarmos bananas nas paredes das casas, prédios públicos e instalações pela cidade, apareceria um milionário para comprar nossas bananas pela bagatela de US$ 6.2 milhões por banana?
A crítica ao sistema da arte e a desigualdade na forma como os artistas, galerias e casas de leilão tratam o universo restrito e exclusivo da arte no mundo, a partir da obra Comedian, do italiano Maurizio Cattelan, que nada mais é que uma banana colada na parede com fita adesiva, chega a ser ridícula diante do mundo com o caos da guerra, a devastação da vida pela crise climática e a pobreza que atinge 1/3 da população mundial.
Quando lia sobre a "escandiculpa", fiquei curioso e fui pesquisar a respeito e descobri que não é a toa que em países como a Noruega, por exemplo, que em 2022, seu Índice de Desenvolvimento Humano alcançou 0,966, ficando atrás somente da Suíça, que obteve 0,967, as pessoas apresentam um "sentimento de culpa" em relação as pessoas que vivem em países menos privilegiados como os 10 com menor IDH, sendo o Sudão do Sul (IDH 0,385) o mais pobre de todos.
Existem três fatores que caracterizam os países mais pobres do mundo tornando seus índices econômicos e sociais tão baixos: 1) Vulnerabilidade econômica; 2) Fragilidade social; 3) Baixa renda. Você poderia se perguntar o que tem a ver banana, IDH, "escandiculpa" e pobreza, bom, diria que uma coisa não tem nada a ver com a outra, entretanto, quando o milionário chinês Justin Sun decidiu pagar US$ 6,2 milhões (cerca de R$ 37 milhões) pela obra Comedian, e comer a banana diante dos olhares da mídia, parece que a crítica do artista atingiu seu ápice e foi além do nicho milionário das obras de arte, despertando a emoção constrangedora, tal como a "escandiculpa", diante das desigualdades sociais no mundo.
Sim, nós temos bananas, vulnerabilidade econômica, social, cultural, ambiental, tecnológica e acreditem, também os sentimentos de culpa invadem as mentes, todos os dias de quem precisa decidir entre comer o almoço, em vez da janta ou o café para anestesiar o estômago e assim, evitar que a dor da fome imobilize a motivação de continuar a viver. A pobreza é cruel e como aponta o relatório “Economia do Burnout: Pobreza e Saúde Mental” das Nações Unidas, pessoas em situação de pobreza têm três vezes mais chances de desenvolver problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, atingindo cerca de 11% da população mundial que sofre com algum transtorno mental, tipo, sentimento de culpa é pouco diante da gravidade estrutural que levou a concentração de renda e a desigualdade social humana.
Entre os 500 bilionários do mundo, 25% pertencem ao setor de tecnologia, seguidos pelos setores de finanças, indústria, varejo e diversidades, todos com cerca de 12% e demais setores completam a lista dos bilionários. Sim, nós temos bananas e concentração de renda também, pois, os 10% mais ricos do mundo ganham 52% da renda mundial, enquanto os 50% mais pobres recebem apenas 8,5% do total.
O mundo possui mais de mil tipos de bananas e segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) é a fruta mais popular com 88 milhões de toneladas consumidas anualmente no mundo. Agora, imagine se cada milionário comprasse uma banana fixada com fita adesiva na parede da casa de cada brasileiro, pagando a bagatela de 6.2 milhões de dólares, seria o fim da pobreza, acabaria com a culpa de muitos, ressignificaria o ranking de milionários e de quebra, transformaria a banana em símbolo de prosperidade e não somente uma crítica ridícula ao seleto nicho de obras de arte no mundo. Não sei vocês, mas eu dou uma "banana" para a pobreza, guerra, vulnerabilidade, crise climática, desemprego e junto, todo filho ou filha de uma senhora ilustre, que não conseguir enxergar um palmo de sua cara, a realidade distópica que vivemos. Com licença, Excuse me, Disculpe, Mi scusi, vou comer uma banana.
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